EXTREMA DIREITA ROMPE BIPARTIDARISMO E REDEFINE MAPA POLÍTICO DE PORTUGAL
Com avanço expressivo, partido Chega iguala número de assentos dos socialistas e se apresenta como força decisiva para o novo governo; centro-direita vence, mas sem maioria

A eleição parlamentar em Portugal, realizada neste domingo (18), redesenhou o equilíbrio de forças no cenário político do país. Embora a vitória formal tenha ficado com a coligação de centro-direita Aliança Democrática (AD), o verdadeiro destaque do pleito foi o avanço expressivo do partido de extrema direita Chega, que alcançou o mesmo número de cadeiras no Parlamento que o tradicional Partido Socialista (PS).
Ambos os partidos empataram com 58 assentos cada, o que encerra um ciclo de mais de 50 anos de predomínio bipartidário entre socialistas e sociais-democratas. O Chega, que adota posições duras contra a imigração, o sistema político e os direitos da população LGBTQIA+, se firmou como uma das principais forças do país. Seu líder, André Ventura, não escondeu o tom triunfante ao declarar:
“É um resultado histórico. O Chega matou o bipartidarismo em Portugal. O sistema já está a tremer.”
A AD, liderada pelo atual primeiro-ministro Luís Montenegro, conquistou 86 cadeiras — um crescimento considerável em relação à eleição anterior, mas ainda insuficiente para alcançar os 116 assentos necessários para a maioria absoluta. Mesmo com o apoio do partido Iniciativa Liberal, a coalizão não consegue governar sozinha e dependerá do apoio de adversários ou do Chega para garantir estabilidade.
Silêncio estratégico
Em meio ao novo cenário, Montenegro, que havia anteriormente rejeitado alianças com o Chega com a frase “não é não”, evitou repetir essa negativa em seu discurso pós-eleição. Indagado se manteria o veto ao partido de Ventura, respondeu apenas: “O meu compromisso é com o ‘sim é sim a Portugal’”, deixando em aberto a possibilidade de negociação.
Durante a campanha, Montenegro endureceu o discurso sobre imigração e segurança pública, numa tentativa clara de atrair eleitores insatisfeitos que migraram para o discurso ultraconservador do Chega. O partido de extrema direita ampliou sua base no sul de Portugal e liderou a votação em regiões como Algarve, Beja, Setúbal e Portalegre, antes dominadas pelo PS.
Derrota da esquerda e cenário incerto
A derrota foi especialmente dura para os socialistas e os demais partidos de esquerda, que não conseguiram se recuperar após o fim da chamada “Geringonça” — coalizão progressista que governou o país entre 2015 e 2019 sob liderança de António Costa.
O resultado deste domingo reflete uma guinada à direita do eleitorado português e insere o Chega no rol de partidos ultraconservadores que têm ganhado protagonismo na Europa, como já visto na Itália, França, Alemanha e Holanda.
Com um Parlamento fragmentado e alianças ainda indefinidas, o futuro governo de Portugal será forçado a negociar com novos atores — e lidar com o desafio de governar um país politicamente dividido e em transformação.
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