PAROLIN DESPONTA COMO FAVORITO À SUCESSÃO DE FRANCISCO, MAS ENFRENTA RESISTÊNCIAS INTERNAS NA IGREJA
Moderado e experiente em diplomacia, cardeal italiano lidera apostas para o próximo papado, mas críticas à sua atuação e perfil técnico geram divisões

Em meio às especulações sobre o futuro da liderança da Igreja Católica, o nome do cardeal italiano Pietro Parolin, de 70 anos, ganha força como possível sucessor do papa Francisco. Atual secretário de Estado do Vaticano, cargo equivalente a um primeiro-ministro da Santa Sé, Parolin é considerado por vaticanistas como o mais cotado a herdar o papado, especialmente por seu perfil conciliador e sua longa trajetória nos bastidores diplomáticos da Igreja.
A expectativa é que, após os contrastes entre os pontificados de Bento 16, mais conservador, e de Francisco, com um viés progressista, o Colégio de Cardeais opte por uma figura de transição e estabilidade. Parolin, com mais de dez anos à frente das relações exteriores do Vaticano e ampla colaboração com Francisco, representa essa continuidade.
Apesar disso, o cardeal não é uma escolha consensual. Sua postura comedida sobre temas como união homoafetiva, celibato e comunhão para divorciados gera desconfiança tanto entre conservadores quanto entre setores reformistas. Outro fator que pesa contra sua candidatura é a ausência de experiência pastoral direta, algo incomum entre papáveis, já que Parolin nunca liderou uma paróquia nem exerceu funções próximas às comunidades católicas.
Formado em direito canônico e com carreira moldada no corpo diplomático da Igreja, Parolin entrou para o serviço externo da Santa Sé em 1986 e passou por missões na Nigéria e no México. Posteriormente, foi subsecretário de Estado e, por decisão de Bento 16, transferido para a nunciatura da Venezuela. Sua volta ao centro do poder vaticano se deu com a eleição de Francisco em 2013, que o nomeou secretário de Estado – tornando-se o mais jovem a ocupar o cargo em quase um século.
À frente da diplomacia vaticana, Parolin foi peça-chave em negociações internacionais como a reaproximação entre Cuba e EUA durante o governo Obama, o diálogo político na Venezuela e a proteção de civis em zonas de conflito como Afeganistão e Gaza. Também visitou o Brasil duas vezes em 2024: primeiro para reunião com o presidente Lula e, depois, como representante do papa na cúpula do G20 no Rio.
O episódio mais polêmico de sua gestão, no entanto, é o acordo firmado com a China em 2018. Sob sua condução, a Santa Sé selou um pacto secreto com o regime chinês sobre a nomeação de bispos no país –o que gerou duras críticas de alas conservadoras, que acusam Parolin de concessões excessivas a Pequim em troca de estabilidade institucional.
Mesmo diante das controvérsias, a influência de Parolin no Vaticano é indiscutível. Além de ser considerado favorito ao papado, ele é apontado como a figura que deve liderar o conclave caso Francisco venha a falecer ou renunciar. Pela regra, apenas cardeais com menos de 80 anos têm direito a voto. Como o atual decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re, já tem 91 anos, e o vice também ultrapassou a idade limite, caberá a Parolin, o mais antigo entre os cardeais-bispos eleitores, coordenar o processo de escolha do novo papa.
A eventual eleição de Parolin poderia marcar uma nova fase para a Igreja: nem de ruptura com Francisco, nem de retorno ao conservadorismo de Bento, mas sim de manutenção cautelosa de um caminho de reformas diplomáticas e administrativas. Se esse será o desejo dos cardeais, no entanto, só será possível saber quando a sucessão se concretizar.
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