DALAI-LAMA AFIRMA QUE SUA FUNDAÇÃO ESCOLHERÁ SUCESSOR, CONTRARIANDO CHINA
Líder budista, que completa 90 anos no domingo, diz que Pequim não tem autoridade sobre a tradição tibetana

O dalai-lama, líder espiritual do budismo tibetano, declarou nesta quarta-feira (2) que apenas a organização Gaden Phodrang Trust — criada por ele — terá autoridade para reconhecer sua futura reencarnação. A afirmação contraria diretamente a posição do governo chinês, que insiste em controlar o processo de escolha do próximo dalai-lama.
Em mensagem divulgada durante as comemorações de seu 90º aniversário, o dalai-lama ressaltou que “ninguém mais tem qualquer autoridade para interferir neste assunto” e orientou seus seguidores a rejeitarem qualquer nome imposto por Pequim. O religioso, que fugiu do Tibete em 1959 após uma revolta fracassada contra o domínio chinês, já havia dito anteriormente que sua próxima reencarnação deverá ocorrer fora da China.
Tradicionalmente, o dalai-lama é escolhido por meio de sinais místicos e reconhecimentos por monges tibetanos, mas a China alega ter o direito de aprovar o sucessor, com base em leis nacionais e num ritual que remonta ao século XVIII, durante a dinastia Qing. Autoridades chinesas reforçaram, nos últimos anos, que a reencarnação deve nascer dentro do território chinês e passar por seleção oficial.
A declaração do dalai-lama reacende a disputa diplomática e religiosa sobre a sucessão da liderança tibetana. Pequim classifica o líder budista como separatista e proíbe manifestações públicas de devoção a ele, enquanto acusa o religioso de tentar dividir o país.
A posição do dalai-lama encontra respaldo entre comunidades tibetanas no exílio, especialmente na Índia, onde vivem cerca de 100 mil refugiados tibetanos, e nos Estados Unidos, que já afirmaram que não aceitariam interferência da China na sucessão espiritual. O governo americano chegou a aprovar, em 2024, legislação pressionando Pequim a respeitar os direitos culturais e religiosos do Tibete.
A disputa sobre o futuro dalai-lama, além do significado religioso, tem profundo impacto geopolítico e deverá se intensificar conforme se aproxima a sucessão do atual líder, considerado um dos mais influentes defensores dos direitos humanos no mundo.
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